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A atual ruptura logística

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Por que os fretes internacionais estão tão caros e o que as empresas precisam saber para não perderem tanto.

Já não é novidade para os players e empresas que trabalham com comércio exterior que o setor logístico internacional está passando por um momento sem precedentes. Todos estão tendo que se adaptar à nova realidade, uma vez que é bem provável que os valores dos fretes não voltarão mais aos patamares aplicados antes desse período. Aliás, esse caos que estamos presenciando, como a falta de contêineres, dificuldades para conseguir booking, cancelamento de embarques, omissões de portos, prazos esticados além dos preços nas alturas, não começou só por causa da pandemia. Essa apenas agilizou um processo que já vinha ano a ano dando sinais de esgotamento: a demanda pelos serviços de transporte internacional vem crescendo desproporcionalmente em relação a oferta de navios, veículos e equipamentos. E no caso do modal marítimo, não é apenas a quantidade de contêineres que importa, mas sim o ciclo dele nessa cadeia toda.

Com o lockdown e a paralisação de empresas a alguns meses atrás, houve interrupções e cancelamentos nas saídas dos navios conforme as programações, o que acarretou na desestabilização da reposição de contêineres pelo mundo. Os portos, por sua vez, reduziram suas atividades e pessoal para obedecer às normas de distanciamento e fitossanitárias, necessitando assim de mais tempo para realizar as operações. Somam-se ainda o fechamento do canal de Suez em março, que interrompeu o principal fluxo de comércio mundial entre a Ásia e a Europa por pelo menos 6 dias, e depois a interrupção das operações do porto de Yantian, na China, o quarto maior do mundo em volume de contêineres. Mais recentemente, o fechamento parcial do terminal de Meishan, no porto de Ningbo, também na China, outro importante escoador mundial de mercadorias. Isso causou e continua causando um enorme congestionamento de navios, que ficam estagnados, aguardando para atracar nos portos. São centenas de milhares de contêineres e mercadorias parados, literalmente.

O setor de cargas aéreas, embora menos crítico que o marítimo, mas também sentindo os efeitos, viu aumentar sua demanda. Hoje, 70% do volume das cargas aéreas é transportado por aviões de passageiros, e com a diminuição e interrupção de voos por causa da pandemia, mais o aumento das operações de e-commerce (hoje, cerca de 16% do e-commerce mundial usa o transporte aéreo com previsão de aumentar para 36% em 2025), os preços subiram consideravelmente, os prazos de entrega aumentaram e algumas cias inclusive estão usando os espaços de passageiros para transportar os pacotes. Recentemente, o aeroporto de Shanghai, na China, também interrompeu suas atividades devido a casos de COVID em funcionários. Mais embarques represados, mais aumento de preços.

Também é preciso considerar o dinheiro injetado pelos governos através de auxílios emergenciais. Isso fez com que o consumo interno dos países aumentasse consideravelmente, o que causou um rápido desabastecimento e sobrecarga no sistema de transportes, pois as empresas tiveram que “correr” para repor as mercadorias. Falando em reposição, operadores do modelo just-in-time notaram que trabalhar com estoque mínimo seria uma nova alternativa diante do novo cenário. Consequentemente, pedidos extras, que não existiam antes, começaram a inflar ainda mais a demanda. Problemas regionais e dificuldades internas de cada país também contribuem para o agravamento dessa ruptura. Tomemos como exemplo a falta de motoristas nos Estados Unidos, falta de caminhões, más condições de trafegabilidade, e assim por diante.

Não restam dúvidas de que é necessário mudar os relacionamentos no comércio exterior. Novas maneiras de negociar, comprar e vender, novas maneiras de contratar operadores logísticos e, acima de tudo planejar as operações.

Abaixo seguem algumas orientações para serem observadas na hora de contratar o frete em meio a essa crise:

1. Consulte especialistas da área de logística para que possam auxiliar, estudar e planejar seus embarques da melhor maneira possível.

2. Priorize fretes diretos. Evite rotas que ofereçam transbordos ou conexões.

3. Seja flexível. Não é época de escolher equipamento para embarques. Ajuste a carga ao o que oferecerem, mesmo se for preciso readequar a embalagem para isso.

4. Planeje mais, procure encurtar distancias. Desenvolva fornecedores e clientes em países vizinhos ou próximos de regiões portuárias e aeroportuárias.

5. Estude trabalhar com estoque de segurança. O modelo Just in time está ameaçado. Pense em algo híbrido, ou ainda em uma compra maior com possibilidade de fazer entreposto aduaneiro num armazém alfandegado próximo a sua empresa.

Enfim, novos desafios exigem capacidade de adaptação, estudo e planejamento. O comércio mundial não vai parar, todos estão enfrentando os mesmos problemas. Vivemos cada vez mais num mundo único, onde os últimos acontecimentos nos provaram que temos que pensar como um só para continuarmos progredindo.

Por Vivian Conz Reginato.